Desde o momento que nascemos e perdemos o “paraíso”, que era a vida intra uterina, onde todas as nossas necessidades eram supridas sem que precisássemos nos preocupar com elas, nos deparamos com o mundo onde se estiver com fome, frio ou calor, fraldas sujas ou qualquer incômodo interno como dores, temos que sinalizar de alguma forma, nos primeiros momentos através do choro que será interpretado principalmente pela mãe. Aí começam nossos traumas, neste texto trauma será utilizado como toda e qualquer situação que gere uma carga de afeto, sejam bons ou ruins, em alguns momentos a mãe não consegue interpretar corretamente uma necessidade ou por algum motivo não pode supri-la imediatamente como seria de nossa vontade, já que estávamos acostumados a não termos necessidades.
Conforme crescemos vamos nos deparando com situações que podem ser mais graves como perda de pessoas queridas, separação dos pais, abandono na infância, abusos físicos ou emocionais e muitas outras que ainda não temos condições psíquicas para lidar com elas. Estas situações geram uma carga tão grande de afeto que para proteger nossa integridade são transferidas para uma região de nossa psique chamada inconsciente, onde ficam armazenadas e aparentemente “esquecidas”, porém mantém toda carga emocional gerada originalmente e não importa quanto tempo passe essa carga não é dissipada muito pelo contrário vai se juntando a outras cargas semelhantes formando um grande acúmulo de energia psíquica.
Para entendermos melhor, segundo Freud, nossa estrutura psíquica é formada pelo consciente que é a parte da psique que temos acesso, onde estão nossas memórias, o que aprendemos e utilizamos no nosso dia-a-dia e o inconsciente que é a parte citada anteriormente onde ficam conteúdos que não temos acesso direto, onde ficam as cargas emocionais que por algum motivo não são suportadas pelo sujeito.
Ainda segundo Freud a nossa forma de enxergar o mundo e a realidade passam por estruturas chamadas Id, Ego e Superego. O Id é nossa parte puramente instintiva que busca satisfação e prazer sempre, é importante por ser responsável pelo nosso instinto de vida já que rege nossas necessidades básicas de sobrevivência. O Superego por sua vez é a estrutura que nos dá a noção de limite de censura para podermos viver em sociedade segundo a cultura em que estamos inseridos, é importante para evitar uma exposição a perigos que comprometam nossa integridade física e moral. Já o Ego é o mediador entre o Id e o Superego e nos permite interagir com o mundo absorvendo as experiências e reagindo a elas.
O equilíbrio entre estas estruturas é que definem o modo como enfrentamos os traumas, nas crianças estas estruturas ainda não estão formadas por inteiro então a forma como as situações traumáticas são absorvidas pode ser comparada a uma esponja seca que absorve tudo e à medida que vamos crescendo e nossa psique se estrutura mais, podemos filtrar determinados acontecimentos. Por este motivo os primeiros anos da infância são tão importantes.
O conceito de inconsciente foi ampliado por Jung, que afirmou que além do inconsciente pessoal de cada um há ainda o inconsciente coletivo, uma estrutura que armazena toda história da humanidade desde seus primórdios e onde aquelas energias que formar transferidas para o inconsciente pessoal encontra ressonância no inconsciente coletivo, o que ajuda a manter sempre a carga traumática.
O inconsciente coletivo é formado por imagens arquetípicas, os arquétipos seriam figuras que centralizariam características identificadas desde o início da humanidade e com as quais nós também nos identificamos e a partir daí teríamos um perfil de personalidade, por exemplo, o arquétipo do herói que centraliza as características de salvar e proteger, está presente desde a mitologia chinesa, passando pela grega e romana e chegando aos dias de hoje com figuras como: super homem ou Batman. Podemos citar ainda o arquétipo de velho sábio, pessoa de grande sabedoria que sempre tem a palavra certa para a hora certa, e assim por diante, existem milhares de arquétipos e no decorrer de nossa formação psíquica nos identificamos com vários.
Como tudo tem sempre dois lados, os arquétipos também um lado positivo e um lado sombrio, o problema é quando inconscientemente nos identificamos com o lado sombrio o que tornaria o herói um tirano controlador, já que ele salva e protege também pode escravizar. E aí vem a pergunta como se livrar deste movimento altamente dinâmico e aparentemente fora de controle?
Tomar consciência de que algo não anda bem em nossas vidas e admitindo que temos problemas é o primeiro passo, o segundo é procurar um bom terapeuta que possa ajudar a encontrar esses “nós” que estão no inconsciente, trazê-los para o consciente e elaborar os conflitos e as emoções que virão com o desatar dos “nós”.
Tarefa fácil? Nem um pouco, mas absolutamente necessária para podermos levar a vida de maneira mais saudável e sem tantas dores emocionais.
Só lembrando o terapeuta será um guia, um companheiro desta viagem, mas o viajante será você, então só você poderá decidir aonde ir, quanto tempo ficar e o que vai querer trazer.
Prepare-se e boa viagem!